Por Raul Pirauá
A Guerra dos Cem Anos foi um dos maiores conflitos da Idade Média, envolvendo duas das maiores potências da Europa na época: França e Inglaterra. Segundo historiadores a guerra começou em 1337, encerrando-se 1453, tendo durado portanto longínquos 116 anos. Porém, esse confronto não foi uma disputa ininterrupta, mas sim uma série de batalhas ao longo desses mais de cem anos.
Para que possamos entender as motivações desse embate, é preciso retrocedermos séculos antes, quando no ano de 1066 o Duque da Normandia, que era um território francês, conquistou a Inglaterra e proclamou-se Rei Guilherme. Diante da situação, tanto o novo rei inglês quanto seus sucessores, além de pertencentes da família real da terra conquistada, eram ainda súditos da coroa francesa, uma vez que eram herdeiros de terras naquele país.
Em 1337 o Rei Eduardo III da Inglaterra reivindicou o trono francês, uma vez que seu tio, o Rei Carlos IV da França, havia falecido nove anos antes sem deixar herdeiros. Porém, os nobres franceses não estavam dispostos a ser curvar diante de um rei inglês, que visava ampliar seu domínio sobre as cidades comerciais, principalmente na região de Flandres. Os franceses organizaram então uma assembleia que escolheu Conde Felipe para assumir o trono, passando a chamar-se Rei Felipe VI.
As relações entre Eduardo III e Felipe VI não eram das mais amistosas e após o rei da Inglaterra herdar os territórios franceses da Gasconha, Guiana e Ponthieu, que somados a Normandia atrapalhavam os planos franceses de centralizar sua monarquia, iniciou-se uma das mais famosas guerras da história da humanidade, a Guerra dos Cem Anos.
A primeira etapa do conflito se deu até 1360 e não teve uma grande expansão, terminando graças ao Tratado de Brétigny, que assegurou aos ingleses plena soberania sobre suas terras em território francês. Nos sessenta anos seguintes ambos os países sofreram com diversos problemas internos, entre eles a avassaladora Peste Negra, havendo assim uma fase de paz não declarada, que esporadicamente era interrompida por conflitos inenarráveis, até que por volta de 1420 o Rei Henrique V da Inglaterra, percebendo que a França passava por uma forte crise interna em função da insatisfação da nobreza com a coroa francesa, decide reivindicar o trono francês dando início ao período mais conturbado da guerra.
Essa fase final do conflito foi favorável à França, que sob a coroa de Carlos VII e contando com um exército muito bem treinado e organizado, conseguiu expulsar os ingleses das regiões da Normandia, Guiana e Gasconha, reconquistando a autonomia sobre seu território. Em 1453 ocorre aquele que é considerado pelos historiadores o marco final da Guerra dos Cem Anos: O Conflito de Castillon na França, onde cerca de 3.500 ingleses foram mortos ou capturados, sendo a primeira batalha da história europeia decidida graças a uma artilharia. Após essa batalha França e Inglaterra assinaram um tratado de paz, pondo um ponto final a guerra.
Além da consolidação de ambas as monarquias e abrir caminho para o absolutismo, a Guerra dos Cem Anos liquidou as pretensões inglesas sobre os territórios franceses, principalmente quando os feudos do rei inglês na França, forma retomados pela coroa francesa.
Houve ainda o declínio da nobreza francesa, pois ao longo da guerra vários nobres morreram sem deixar herdeiros e suas terras passaram para a coroa francesa, o que enfraqueceu consideravelmente o sistema feudal e possibilitou a criação de algumas instituições de governo centralizadas.
A Guerra dos Cem Anos marca o final da Idade média e o início da Época Moderna, e seus conflitos deixaram milhares de mortos, além de devastar o território e a produção agrícola francesa.
Joana D’Arc
Toda guerra tem seu personagem principal e a Guerra dos Cem Anos conta com uma das personagens mais místicas da história, ninguém menos que Joana D’Arc, uma camponesa francesa nascida em 1412 na pequena Domrémy, que durante a infância dividia seu tempo entre as responsabilidades domésticas e as tradicionais brincadeiras de crianças.
Joana D’Arc era muito religiosa e aos doze anos de idade afirmou ter ouvido vozes celestiais que lhe ordenavam salvar a França e coroar o rei. Certo dia a menina escreveu uma carta ao rei francês pedindo-lhe conselhos, e por motivos até hoje desconhecidos o monarca aceitou recebê-la. Chegando ao Castelo de Chion, após dez dias de viagem, Joana D’Arc falou imediatamente ao Rei Carlos VII sobre as vozes que ouvira e as ordens que narravam. A princípio o rei duvidou da veracidade dessas afirmações, porém Joana convenceu o rei quando narrou os pedidos que o monarca fizera a Deus, quando estava sozinho em uma igreja. Após ser testada por teólogos Joana D’Arc recebeu das mãos do rei uma espada, um estandarte e o comando geral dos exércitos franceses.
A heroína e sua pequena tropa de cinco mil homens conseguiram empreender vitórias em várias batalhas da Guerra dos Cem Anos. Porém em 1430, os nobres franceses percebendo o crescimento de Joana D’Arc e temendo uma aliança popular junto aos camponeses, o que fugiria dos seus interesses, entregam-na aos ingleses, que sob a acusação de bruxaria, na verdade um pretexto sem fundamentos, condenaram-na a morte, sendo queimada em uma fogueira.
Gostei muito!
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